O paradigma da passagem
É certo que uma nova logística exige uma nova infraestrutura. Mas nada exorbitante, só pontos de parada mais inteligentes e um novo sistema de pagamento. Hoje temos pontos multilinhas segmentados em municipais e intermunicipais, com a bagunça de dezenas de linhas os compartilhando para destinos diferentes. Podemos pagar a passagem no dinheiro ou usar o pré pago Riocard. Vamos começar pela logística, depois tratamos da estrutura.
Logística de integração
Como abordado no artigo anterior, ao invés do sistema atual de conexão bairro x Centro, um sistema de baldeação inteligente aumenta a eficiência do sistema, reduz custo e melhora o trânsito. Assim reduzindo tempo de viagem, dando melhor condição de trabalho aos rodoviários e gerando mais receita às empresas sem aumento de tarifa.
Seguindo com o exemplo do município de São Gonçalo e seus vizinhos limítrofes: Niterói, Itaboraí e Maricá com maior fluxo de pessoas entre si. Podemos racionalizar o sistema de transporte público para todos os municípios do Estado do Rio de Janeiro e para todos no país.
A ideia de baldeação é antiga, porém os estudos matemáticos esbarram na falta de percepção da prática dos autores. O conceito é criar linhas com menor custo de operação mas poucas baldeações. Ainda resolver duas outras questões incômodas não abordadas: tempo de espera entre baldeações e forma de cobrança da tarifa.
O objetivo do mapa acima é ilustrar a sobreposição de linhas que percorrem a cidade e onde é mais intenso o tráfego. Mesmo sem adicionar nem metade de todas as linhas municipais de ônibus notasse uma grande sobreposição de rotas, principalmente entre Tribobó e o Centro da Cidade. E estamos falando somente das linhas municipais, com as linhas intermunicipais somadas podemos entender porque o trânsito em nossas cidades é tão caótico.
Já neste mapa temos ilustrado esboço de como seria o sistema, com rotas expressas e rotas coletoras. Cada bairro conectado a duas vias expressas com linhas coletoras em sistema circular com trajetos curtos enquanto as linhas expressas fazem os percursos longos. Cada linha coletora tem um tempo de espera para o passageiro menor por ser um trajeto curto e ligar duas vias expressas. Assim dá ao usuário o direito de escolha por embarcar na coletora no sentido de ida e de volta, conforme lhe for mais conveniente. Mesmo com 3 ônibus por linha coletora o tempo de espera passa de 30 minutos para menos de 10 min, pela possibilidade de embarque nos dois sentidos do trajeto.
Observe que o bairro Novo México (10)passa a integrar o sistema. Para isto é necessário criar um túnel entre Alacomba e Engenho Pequeno sob a reserva florestal. Tornando assim uma opção de acesso rápido entre os distritos de Neves e Ipiiba, via Sete Pontes. Sem isto, o bairro Novo México continua isolado do resto do município.
Economicamente Viável
O mapa ficou bem mais legível mesmo tendo todas as rotas, ao contrário do sistema atual que o mapa ficou caótico antes de chegar a metade das rotas no desenho. Ficou claro que o sistema de baldeação é mais eficaz em questões de logística de trânsito, em fornecimento de opções de rotas mais convenientes ao usuário, em redução de tempo de espera. Agora quanto economicamente ?
Com o sistema de baldeação o órgão gestor pode dimensionar melhor a quantidade de ônibus em cada linha, acabando com a superlotação e a ociosidade. Logo há menor desgaste dos carros e maior rentabilidade de cada viagem municipal. Se adicionarmos a integração intermunicipal ao invés de linhas intermunicipais a redução de custos é ainda maior.
Considerando a movimentação de pessoas entre Niterói e São Gonçalo, temos no mapa 5 pontos de integração entre municípios: Barreto, Baldeador, Maria Paula,Várzea das Moças para Niterói e Calaboca para Maricá. Na praça do Barreto se instalaria uma estação de baldeação intermunicipal. Assim os passageiros vindos de São Gonçalo embarcam em ônibus do sistema de Niterói para completar seu destino na cidade e vice-versa. Sem acréscimo de custo operacional como com linhas intermunicipais. Da mesma forma nos outros pontos de integração na RJ 104( baldeador), na RJ 100 (Maria Paula) e na RJ 106 (Várzea da Moças).
Sistema de cobrança de tarifa
A tarifa municipal se torna única para qualquer parte do município. Hoje, por exemplo, para ir do bairro de Tribobó para Neves dentro de São Gonçalo se paga duas passagens. O que restringe a população às oportunidades de emprego. Assim como ir de Rio do Ouro a Gradim, Jockey ao Rocha, etc.. com a integração é passagem única para qualquer ponto do município ou de outro município vizinho. Se paga a passagem no primeiro ônibus que embarcar e esta passagem vale para todo o trajeto.
Cada veículo terá uma máquina de pagamento vinculada a ele, assim o passageiro sem Riocard pode pagar a passagem no dinheiro ou no débito por aproximação, facilitando ainda mais para o usuário a aquisição de passagem. Esta máquina equipada com impressora imprime a passagem conforme o tipo escolhido, municipal para viagem dentro do município, ou intermunicipal para integração entre municípios vizinhos, ou ainda uma passagem transmunicipal para viagem entre municípios não limítrofes, como Itaboraí e Niterói, que tem São Gonçalo entre si. Para viagens a municípios mais distantes entre si, como Niterói e Cabo Frio, permanecem as linhas expressas atuais.
Menor custo da tarifa intermunicipal para o usuário
O custo de cada tarifa intermunicipal e transmunicipal será menor do que é hoje. A máquina de pagamento terá as três opções de passagem, que serão impressas com os dados:
- Veículo em que foi comprada;
- Cidade em que foi comprada;
- tipo de passagem, municipal, intermunicipal ou trans municipal;
- hora em que foi comprada e
- validade calculada pelo tempo total necessário para concluir o percurso. Isto garante que eventuais engarrafamentos não invalidem a passagem na baldeação.
A passagem pode ser apresentada ao motorista ou um QR Code pode ser impresso e usado para validação eletrônica na roleta via câmera acoplada ao leitor do cartão Riocard. Detalhes a se decidir com a equipe de programação do sistema. Assim como o gestor do sistema de pagamento, que pode ser a própria Riocard, ou uma empresa financeira criada pela federação das empresas de transporte para centralizar todos os pagamentos e gerir a distribuição da receita. Já deve ter notado que a distribuição das linhas por empresa fica inviável neste novo sistema. Vamos detalhar agora esta distribuição.
Sistema de remuneração das empresas - o paradigma da passagem
Uma vez que o sistema de baldeação é mais simples, demandando menos linhas de ônibus, a venda de passagens deixa de ser individual e passa a ser coletiva entre as empresas. Centrada via software de pagamento. Ao invés de as empresas serem remuneradas pelas rotas que têm, passam a ser remuneradas pelo número de veículos que disponibilizam no sistema(mesma rota, múltiplas empresas). Em cada hora é contabilizado o número de passagens vendidas e o número de veículos de cada empresa em operação nas linhas do município.
Então cada empresa faz jus a fração da arrecadação sobre número de carros que têm operando. Soma-se a arrecadação municipal e intermunicipal quando vendida por carros do sistema de cada município. Ou seja, quando o passageiro vai de São Gonçalo para Niterói o valor da passagem pago fica com o sistema de São Gonçalo, quando volta, fica com o sistema de Niterói. A máquina de pagamento define qual o sistema que vai arrecadar.
Benefícios
Não há perdas para as empresas uma vez que o sistema está otimizado. E há grande ganho para o usuário que reduz seu custo com transporte público. Abrindo novas possibilidades de estudo, trabalho e lazer. Reduz o custo para empregadores os permitindo contratar pessoal qualificado fora do seu município sede. O que aumenta a movimentação de passageiros elevando o lucro do sistema.
Formato dos ônibus nas linhas expressas
Outra forma de aumentar a rentabilidade do sistema é a utilização nas linhas expressas de ônibus dupla classe. Carros double deck que no primeiro andar teriam a configuração de linha urbana e no segundo andar a configuração de linha executiva. Mais conforto para todos os usuários, maior oferta de carros executivos reduzindo a quantidade de carros particulares nas ruas. Passagem executiva maior que a urbana.
Dados da pesquisa do Plano de Mobilidade Urbana (PlanMob) de São Gonçalo, feita este ano, inferem que 41,38% da população usa carro (Uber, como motorista ou carona)com frequência para se deslocar pela cidade. Ou seja, o custo com estacionamento é um peso extra para boa parte destes.
Contar com uma linha expressa executiva com curto tempo de espera integrada a linha urbana, reduz o custo com transporte para estes cidadãos, aumenta a rentabilidade das empresas, anula o custo para as prefeituras com subsídios para a passagem urbana, gerando receita para os governos municipais.
Leia o primeiro artigo ‘Ônibus:o paradigma da rota’ aqui
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